Livro Expertise em Aprender

Fernando Jucá

Livro Expertise em Aprender

"O aprendizado não é obrigatório, mas a sobrevivência também não.” W. Edwards Deming

“A habilidade de aprender mais rápido que outros é provavelmente a única vantagem competitiva realmente sustentável.” Arie De Geus

“Um executivo da era do conhecimento precisa de apenas uma coisa: aprender a aprender.” Peter Drucker


Pois é, a expertise em aprender é a competência fundamental atualmente. Na verdade, a expertise em aprender pode até ser chamada de “meta competência”: quanto mais possui-la, mais eficazmente você se desenvolverá nas outras competências.

Pausa.
Se você é como 90% dos executivos com quem diariamente conversamos, provavelmente já está torcendo o nariz e elocubrando grunhidos mentais como: “expertise em aprender? Como assim? É aquele papo de saber estudar? Não acredito, nessa altura da minha vida você vem falar disso?”
Perdão, mas a palavra “estudar”, proferida logo após a explicação sobre o tema central desse texto, normalmente é uma preciosa indicação de que vale explorar com um pouco mais de calma o que entendemos sobre “aprender”.

É difícil conceber uma definição para um termo aparentemente tão simples e corriqueiro, não é?
Não fique surpreso. Um filósofo, John Stuart Mill, que, aliás, também escreveu sobre questões relacionadas à educação e aprendizagem, disse bem: “é muito fácil confundir familiaridade com entendimento!”.

Grande parte das pessoas erroneamente imagina o aprendizado como um processo de absorção. Em outras palavras, há um conhecimento pronto lá fora, que preciso incorporar. Para abusar de uma metáfora já muito utilizada, o processo de aprender seria comparável a um copo que vai gradualmente se enchendo de água. O verbo “estudar” nasce como decorrência inevitável desse raciocínio.
Claro, a próxima imagem mental que surge é a de fontes formais de conhecimento, como escolas e cursos. E livros, muitos deles.
E, se há livros, é importante reservar um tempo especial para o aprendizado. Um momento só meu, sem interrupções, em que possa me concentrar na leitura. Há o tempo do estudo e o tempo do trabalho, e os dois não se misturam. Pode perguntar para um executivo o que ele fez no dia. Ele vai dizer que comandou, pensou, se comunicou, escreveu...dezenas de verbos, sem a menção da palavra “aprender”.
Finalmente, e não menos importante, o aprender é percebido como uma atividade puramente intelectual. Aprendo o nome da capital de Botswana, quando ocorreu a Guerra do Paraguai, como calcular raízes cúbicas...está tudo aqui dentro, guardado na cabeça. Se você quiser conferir, basta me perguntar ou propor uma prova.
Bom, será que aprender é apenas isso?

Vamos fazer o seguinte: vamos propor uma definição mais ampla para o aprendizado. E depois tentar mostrar porque esse assunto é tão relevante hoje. Aí vai a definição:


Aprendo quando enriqueço ou modifico meus modelos mentais, alterando meu comportamento.


Um primeiro ponto é que aprendizado implica a mudança de comportamento. Se tal mudança não ocorreu, estamos falando apenas de enciclopedismo gratuito, para gastar em almoços e festas.
Um segundo ponto: modelo mental é uma explicação sobre como as coisas são, sobre como o mundo funciona.
Se vou para uma entrevista de seleção, para voltar ao nosso exemplo original, tenho um modelo mental do que irão me perguntar, de como tenho que me comportar, do que posso fazer para causar uma boa impressão.
Note bem, modelos mentais são úteis para mim porque ensejam comportamentos específicos, que, de acordo com esse modelo, devem trazer o sucesso. Já no começo da história humana, essa capacidade de construir bons modelos mentais foi uma importante vantagem competitiva para assegurar a nossa sobrevivência.
É importante sacar que temos modelos mentais para tudo. Assim, é fácil entender como essa questão é tão relevante para as empresas, ou, pelo menos, deveria ser. Por exemplo: qual o modelo mental de nossos líderes sobre desenvolvimento de talentos? Que modelo mental estamos aplicando ao tentar avaliar nossas relações com consumidor?
Modelos mentais são construídos e refinados sem parar. As fontes para esse processo são quase infinitas, mesmo que muitas vezes sutis. Um comentário de um colega no corredor sobre o seu chefe pode ajustar seu modelo mental sobre perspectivas de carreira. Os resultados frustrantes de uma reunião com a equipe de vendas podem reforçar seu modelo mental sobre o trabalho em equipe.
E o mais curioso: há uma interação constante entre novas experiências e meus modelos mentais, uma coisa influencia a outra. Em função dessa influência, se duas pessoas diferentes participassem da mesma reunião de vendas, com os mesmíssimos resultados frustrantes do exemplo acima, o aprendizado ainda sim poderia ser completamente distinto.

Você enriquece seu modelo mental quando torna mais específico seu conhecimento. Um exemplo primitivo: não são todas as cobras que são perigosas, apenas as de coloração avermelhada. Um exemplo corporativo: em um treinamento, posso aprender que o melhor momento para eu dar feedback a alguém é durante, ou logo após a execução da tarefa, e não muito depois.
Modificar um modelo mental, por sua vez, implica desaprender concepções anteriores, em prol de outras mais úteis e relevantes. No exemplo corporativo anterior, você descobre também que, ao contrário do que seu modelo mental original supunha, o feedback não é uma comunicação de mão única, em que alguém corrige ou elogia outra pessoa. Mais produtivo é modificar o modelo mental, repensando totalmente o feedback, para vê-lo como um diálogo, uma troca mútua de impressões e um acordo sobre novos comportamentos.

Percebe a diferença entre enriquecer e modificar um modelo mental?
Repito: enriquecer um modelo mental é acrescentar algo para refiná-lo, modificar um modelo significa desaprender algo.
Se você perguntar para um trainee se ele sabe trabalhar em equipe, ele, sem titubear, vai dizer que sim. Mas seu modelo mental sobre o tema foi forjado em situações acadêmicas universitárias, ou seja, com grupos de alunos em que normalmente há pouca troca de ideias; uma divisão de tarefas simples, que depois se organizam por adição (você lê tal capítulo, eu leio outro); e baixo conflito de interesses (todos tem o mesmo: passar de ano). Em muitos programas de treinamento, começamos a conversa modificando essa visão e depois, a partir da geração de experiências, enriquecendo um novo modelo mental, que leva em conta as características mais complexas do cenário corporativo.
É fácil admitir que enriquecer um modelo mental é um movimento mais natural para todos nós, ele não envolve a desconfirmação de crenças e premissas, quase sempre carregadas de carga emocional, inclusive e especialmente sobre como vemos e queremos projetar nossa imagem de competência.
O executivo que já operava com o modelo mental de que reuniões quase sempre são um desperdício de energia, provavelmente iria sair do encontro com a equipe de vendas um pouco mais convicto: “eu já sabia, quanta perda de tempo”. Ah, como adoramos dizer que já sabíamos...
Mas a coisa vai mais longe. Uma pesquisa revelou que a notória maior dificuldade dos adultos versus as crianças em aprender (popularizada no infeliz ditado “macaco velho não aprende truque novo”) é explicada não porque não conseguimos fazer novas conexões neurais para enriquecer nossos modelos mentais e sim porque é muito difícil enfraquecer conexões neurais antigas, modificando então nossos modelos mentais atuais.
Para os adultos, ou seja, desaprender é o grande desafio. É por isso, por exemplo, que carregamos no sotaque quando aprendemos uma língua nova: podemos até aprender novas palavras, mas é quase impossível desaprender nosso acento ao falar.

Bom, qual o resumo de todos esses raciocínios sobre aprendizado?

Lembro que em bate-papo recente com um ex-presidente de grandes empresas, ouvi: “o que distingue as pessoas que chegam ao topo é que elas aprendem melhor e mais velozmente que as outras.”

Bingo!

Qual entre dois profissionais aprende mais rápido, aquele com a visão “comum sobre aprendizagem” ou o com a visão “expertise”?
Qual está mais preparado para lidar com mudanças no mercado e projetos de inovação?
Você não prefere trabalhar ao lado de alguém que sabe questionar modelos mentais e busca desaprender, quando necessário?

O segredo, claro, está em como desenvolver a expertise em aprender. A Atingire tem tido muito sucesso com um Programa inovador nessa direção, mas deixemos esse assunto para outra conversa...

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